quinta-feira, 26 de junho de 2008

"Ode ao celibato"

Por entre textos velhos, e-mails guardados e com cheiro de mofo, poemas desiludidos... Encontrei essa pérola, que escrevi em um momento de grande descrença amorosa faz mais ou menos 1 ano.

"Ode ao celibato"

Pois bem, inicio aqui um protesto.
Cônjuges em potencial e pretendentes sem muita pretenção,
solteiros mal resolvidos, casais des-casados, casais pré-fabricados
ex-amores de outrem, amores de si.
Está sendo lançada por você a campanha:
"MOVIMENTO CELIBATÁRIO NÃO SOLITÁRIO"

Para aqueles que cansaram de pisões, safanões, nões, nãos, e especulações.
Para aqueles que assim como eu cansaram do amor-cocaína, aquele que te leva às alturas mas pode te levar ao inferno antes que você possa dizer "filhadaputa".
Sim ao celibato e seus benefícios. Não para a dor no peito, não para as noites mal dormidas, não para pensamento a longo prazo. Sim para o frívolo e sincero.
Não para os rodeios, os passos com pés atrás. Solteiros, celibatários, mas nunca solitários. Porque a beleza da vida não está na montanha que tem 1 milhão de anos, mas sim o cair da pétala de uma rosa qualquer, perceptível por poucos. Um viva para o trivial, leve e volúvel.

Hip Hip Hurray!

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Ps: Gente o Saia Justa do dia 25/06 e suas apresentadoras se atreveram a falar sobre a semana da diversidade e sobre o estudo sueco sobre a semelhança dos cérebros gays e héteros... é tão engraçado como ainda se fala sobre o assunto pisando em ovos, cheios de dedos (que trocadalho!), mesmo em um programa considerado "moderninho". As únicas coisas que gostei de ouvir foram a Ângela Rô Rô e a Rogéria.

terça-feira, 24 de junho de 2008

Imersão criativa

Voltei ao blog. Envolta agora em um processo criacional ferrenho venho aqui exportar algumas idéias, letras, poesias e baboseiras.

Primeira postagem depois de alguns longos meses, vem com um conteúdo inédito. O esqueleto e introdução de um conto produzido em duo com um grande amigo e cúmplice.
Os mais chegados, certamente vão entender... os mais loucos e desajustados socialmente, espero que se identifiquem.



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::Conto sobre um
drink::

Parte 1 :Introdução

Não que todos os senhores extravagantes tenham nomes diferentes, mas esse realmente escolheu se chamar assim. Essa não foi apenas mais uma de suas escolhas, através de uma trajetória rica em experiências e acontecimentos, ouviu muito mais palavras de desestímulo do que de confortos de sorte. Mas isso não o impediu de permitir-se fantasiar quando necessário e viver intensamente cada gole de um grande "drink" que considerava a vida.

Criado em uma cidade, a qual, nem ela mesma se permitiu ser mais do que um apêndice do Rio de Janeiro, em que as descobertas e os aprendizados, como se já não bastassem e a rigidez natural na qual a juventude se aplica, foram agravados pelo aspecto provinciano e mentalidade extremamente interiorana das pessoas que o cercavam.

Seria uma grande injustiça generalizar todos aqueles que o cercavam, já que houve grandes amigos na juventude de Victor, pessoas essas que nem sempre se importavam com a cor de suas unhas, ou se ele havia bebido demais.

Não adianta culpar outrem por todas as podas que Victor sofrera em sua vida, por um período, foi ele mesmo quem não conseguiu se deixar buscar o que procurava.

Diante de tais condições, revezes e sucessos, tal indivíduo se tornou o excêntrico que é hoje. A típica figura que todos nós comentamos se o vemos na mesa ao lado, em um restaurante gastronômico sofisticado da Zona Sul.

Caminhando sempre por marquises, Victor Montserrat se esgueira entre ruas e carros, pessoas e mais pessoas afim de sempre evitar ser atingido pelos feixes do sol. Talvez por uma pele excessivamente branca agravada pelo excesso de pó compacto e maquilagem noturna, ou por uma genuinidade escusa, continua assim a tornar toda sua caminhada pela Rita Ludolf um espetáculo de pura habilidade. Facilmente percebido, esse senhor, mesmo em dias nebulosos não dispensa seus óculos escuros, talvez por uma fotofobia, ou muito provavelmente uma estranha forma de dissimular o olhar.


- Boa tarde, Seu Montserrat! - diz Paulo, o porteiro da tarde do edifício em que reside Victor.
- Nem tanto... - resmunga o senhor - Bernardino está em casa?
- Não senhor! Saiu há pouco bastante apressado...

O olhar de Victor perde a dissimulação.

Já em seu andar, ao retirar a sua mais nova aquisição, um sobretudo que encomendou da Itália, abre a porta de seu apartamento no Leblon desejando, estranhamente, que fosse aquele antigo cafofo em um "quartier" decadente de Paris.
Observando cada um dos seus gatos, percebeu que naquele momento havida dado a cada um deles um nome para cada coisa que não terminara na vida.
"Marie": uma antiga amiga que não pode ser socorrida durante suas fases de depressão profunda, o que ele compreendia muito bem, já que os altos e baixos fizeram parte de toda sua vida.
"Arramis": uma cozinheira de Guadalahara muito pouco fluente no português mas muito expressiva com as maracas e na arte de amar. Infelizmente terminou apenas com as maracas. Mas ainda tem uma barraca maravilhosa de angu à bahiana. Victor lamenta, era uma exímia cantriz.

Perdido no mar de devaneios felinos, subitamente é interrompido pelo bip da secretária eletrônica, se aproxima para verificar os recados, que se anunciam logo após o término de "Cavalgada das Valquírias". Uma voz familiar, mas que demorou para reconhecer:

- Vic, a urna ornamentada de Seth chegou à loja, me liga assim que puder, beijo, Peter.

Ele pensa com aquele carinho quase que fraternal, que graças aos Deuses, ele não se tornou mais um gato.
Peterson era como se chamava, de origem norte-americana, ele nunca fora ao exterior, e francamente não era uma pessoa ambiciosa, mas seus projetos incluíam o bem-estar e conforto de sua família e amigos. Não havia nada que ele desse mais valor do que a importância da fidelidade, e por isso se manteve lado a lado com aqueles nos quais acreditava. Pessoas as quais lhe estenderam a mão, como Victor e poucos outros, ele retribuiu com trabalho e bons sentimentos, hoje administra o antiquário e a sanidade de seu caro amigo, Victor.

Tanto um quanto outro não andam muito bem. Os negócios já estiveram em melhor fase bem como o emocional de Victor. É fato que Peter é um bom entendedor de antiguidades e um, melhor ainda, "connaisseur" em termos de pessoas.



- Peter, é a segunda vez hoje que lhe pergunto sobre aquele tapete... – ao telefone – Será possível que você está ficando tão displicente?

- E pela terceira vez eu lhe respondo que está na sua mesa na sala, enrolado em papel pardo...

- Ah... bem... os gatos derrubaram...

- A gente ainda vai se encontrar para aquela maldita cuba? O Roberto já está me ligando... pela décima oitava vez!

- Ah... aquela... cuba? Nós marcamos quando? Ah! Sim! Está aqui na agenda... O Nino saiu... apareçam quando quiserem.

- Ok! Vou tomar um banho e vou pai!



Com o telefone no gancho, Victor se lembra que bebeu a última dose de rum caribenho no seu desjejum e desce para se prover de mais bebida como o bom anfitrião que se tornou através dos anos.

Victor não tornava isso um vício e não tinha nada contra aqueles que o tinham como uma dependência, mas havia certas coisas na vida que ele fazia questão de degustar, como apreciar um bom vermute em dias frios, saber escolher um conhaque bem perfumado servido em doses quase que homeopáticas, como a felicidade durante todas as suas primaveras. Nesse período terreno aprendeu cada sabor e cada momento que um "drink" pede. E é claro, que às vezes um "drink" solitário é mais significante do que estar em um grande brinde.


No caminho para a Barra da Tijuca, dentro do metrô, está nesse momento, Bernardino, ou Nino para Victor, em suas roupas simples, juventude e ingenuidade a caminho da faculdade de informática, a qual seu companheiro paga com tanto apreço.



- Ô Bernardo!? Cara! Outro dia vi aquele seu tio, muito figura! O que você disse que ele fazia mesmo? Hein!? – Pergunta seu colega de turma.

- Bem... – tentando esconder o constrangimento. – ele é dono de um antiquário e faz curso de teatro... e é basicamente isso...

- ! Deve ser por isso que ele estava parecendo aqueles caras de filme, e tal... De sobretudo, bengala...



Era assim que nino tinha que esconder seu relacionamento com o "Seu Montserrat".



Quando chegou de Goiás aos 18 anos, apenas com R$ 150,00, 4 mudas de roupa, coragem e seu corpo caboclo, não esperava que fosse conhecer alma tão bondosa e ao mesmo tempo tão carente como Victor.

Cansado de, na primeira semana no Rio, procurar qualquer trampo de garçon na Zona Sul, Bernardino sentou no primeiro bar que viu, "Clipper", para tomar uma dose de calma.

Sentado, sozinho, notou um senhor de aparência peculiar do outro lado do bar. Mal sabia ele que tal senhor seria o seu maior mantenedor e protetor.



Victor, sentado com as pernas cruzadas apoiava as costas sobre o encosto e um dos braços elegantemente portava uma cigarrilha, enquanto o outro, levava à boca um copo solitário de "Martini". O jovem senhor trajava veludo molhado e "chamois" negro, quase que contracenando com os ousados detalhes em cetim "bordeaux". Seus cabelos milimetricamente penteados para trás, possuíam uma cor que nem ele sabia definir.

Pelo canto esquerdo de seus olhos, Victor, notou um belo exemplar que o fitava quase com a curiosidade de um gato, Um rapaz bem abastado fisicamente, tinha uma bela pele que inclinava para o jambo, cabelos lustrosos e negros, e um ar jovial que fez com que se lembrasse de um de seus amores pretéritos.

(continua...)

(Agnes Lima)